quarta-feira, 15 de agosto de 2007


O início da marcação... sinto no peito. Dissimulo o sentimento, trasnformando-o em uma análise fria. Mas a nota que entra é tão grave, que estes pilares feitos de falsa austeridade vão ao chão, me deixam tão vulnerável; foi apenas um sopro, já estou muito mais apreensivo. Me reconhecendo no reflexo da janela, me pergunto: "o que sou?". Menos clichê do que se imagina.
Num instante o silêncio é preenchido por referências sonoras que me angustiam. Sinto como se estivesse amarrado ao velho sofá. O tedioso cenário por onde desfila o meu cotidiano, ganha uma poderosa expressão sonora.
E nesse instante de introspecção, aparecem lá fora, como se fantasmas fossem, possibilidades personificadas do que eu poderia ter sido; vão se revezando a cada pausa de respiração e quando a retomo , acompanhado por uma nova linha de improviso, já não é mais o mesmo. Fico suspenso numa enorme e dilacerante apreensão. Não sou capaz de contar quantos eu vi desfilar do outro lado da janela e nem quantos quis ser. Vai passando um agora que é, de todos que lembro de ter visto, o mais familiar; singularmente bem vestido, cabelo cuidadosamente penteado, um modo que desconheço. Faço o julgo pelo o que vestem, essas minhas possibilidades.
O que é presente, passado ou futuro, organicamente, já não me importa mais. O orgulho é nesse instante, um prego que se está cravando em minha mão direita sobre o meu peito, como se estivesse sendo obrigado a prestar um juramento íntimo. Minha outra mão, distante de ser forçada a alguma coisa , apenas acompanha o rítimo em minha perna esquerda.
Sedo... já não posso mais represar as lembranças, na tentativa de domesticar a nostalgia. O dique foi rompido, me entrego, quase sem força, às consequências. O rítimo já não é mais o mesmo, já nem sei se realmente me afogo em lembranças; nem sei se fui transformado em qualquer coisa do cotidiano de alguém; nem sei em que referência me transformei... acho que fui com sopro... Nem sei, enfim, se estou aqui ou lá fora.

domingo, 12 de agosto de 2007

Todos pensamentos de quem contempla uma flor

A ação abortiva num frenético dia incestuoso
o imaculado agoniza nas sombras da perversidade
divindades estupradas soluçam óleo e sangue
goza derramado na face vil e dócil
a penetração prevalece sobre a prece
depreciado por gemidos o importante
suplicantes por tapas e humilhações
rasteja chorando a beleza juvenil
a senilidade presente no espiríto humano
demônios masturbam-se e cospem no espelho
a música silencia-se com as profecias
gritos ecoam nos becos mórbidos do mundo urbano
corações secos mastigados em mandíbulas caninas
a cruz metálica na vagina rosada
forca e arma preparação para libertação
criança com sede enjaulada diante de um rio
homem com fome assiste jantar na novela
deus está com uma moléstia nos olhos
o ânus de Maria arde e sangra
sufoco angustiante na trajetória do esperma
florestas queimam e não há fumaça no inferno
explosões nucleares devastam cidades inteiras
a coluna extraída da lagartixa
sexo anal com cadáver putrefacto
heroína injetada na veia do pênis
a realidade esmagada a virtualidade exaltada
Existir é defecar durante uma hora
existir é ter todos ciscos nos olhos
e também é no momento de cantar parabéns ir embora

sábado, 11 de agosto de 2007

SEMSABERLIDARCOMAMERDATODADOCOTIDIANOINTROSPECTIVO.

Cabeça ociosa. Pego o jornal, folheio o caderno principal. Nada de novo. Na condição de merdafoda em assuntos "políticos", me sinto a vontade para afirmar que esse jornal que agora leio, é um grande e arrojado panfleto político. Prestação de serviço? Bobagem, tráfico de influência, isso sim. NOTÍCIA! Chega a constranger. Mas, fazer o que, tenho que assumir: aqui está o parâmetro de redação, exigida por cursos, concursos, vestibulares, enems... e como sempre estou a margem desses testes. Observo atentamente como a forma de determinado artigo foi construído, quanto ao conteúdo, prefiro enfiar no cu, que é mais azul.
Já se foram três páginas, a cabeça não aceita mais nada que exija conexões complexas; nada de bolsa de valores, mega operações, porra nenhuma de nada. Enfim, para minha sorte, eis que chega a seção futilidade por aqui. Casas, celulares, eletrodomésticos, carros etc, coisas que, de tão distantes, pedem que eu caminhe na direção delas, para assim me abstrair do que é real... que delícia. TERRÍVEL! Chego a uma conclusão óbvia: não sou o único a ler jornal, que embarcar nessas viagens em busca da terra do deslumbre. Afinal, esses anúncios não são feitos apenas no meu número. Bem, acho que aqui caberia aquelas idéias de "meta-algumacoisa": A notícia é o anúncio da mercadoria Jornal, ou o Jornal é o anúncio da mercadoria notícia? Ou o Jornal é, ao mesmo tempo, mercadoria, anuncio e notícia? Tudo com o seus respectivos valores e qualidades.
Não posso ir muito além disso: "dúvida que surge sem base teórica para sustentá-la e é transmitida e defendia como certeza, transforma-se rapidamente, dada a dose certa de arrogância, no mais puro pedantismo"; quero ficar bem longe desse título.
Surpresa! Olha aí que beleza: Estou pensando! Adeus cabeça ociosa do cacete. Me sinto bem, me sinto leve. Como é bom pensar, que grandiosa conquista; que fantástico! numa modesta produção (seria essa a palavra fabril do momento?) intelectual, me transformo em um novo homem. Então é isso: "O PENSAR", que beleza. Acho que lutei em algum lugar, não consigo me lembrar onde, pelo estigma de farça, terei que rever isso urgentemente.

Maldição! Sempre acontece isso. Uma pequena interrupção e pronto! Toda a minha gloriosa edificação intelectual se esvai. Pensamentos de Sérgio Naya... foi-se tudo. Poderia rolar para cima e ler tudo que escrevi até aqui, mas isso não seria legal, isso mudaria toda a minha perspectiva, estaria escrevendo sobre o PENSAR, sem pensar no PENSAR, apenas iria em direção de uma meta. Ah! olha essa palavrinha proibida visitando meu texto... que tentativa feia de desviar a atenção do meu resgate do assunto... Peraí, o que estou vendo aqui... que maravilha! Uma seção de móveis em oferta me esperando. Claro, eu e minha cabeça ociosa.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007





assim

Estou protegida por uma branca couraça,
esperando a bala aravessar o meu peito.
Minhas mãos protegem os meus ouvidos,
não quero ouvir o estardalhaço
pré-anunciando o meu fim

(me causaria ânsia)

Meus olhos estão fechados
esperando...
tento mentalizar um lugar calmo
repito em voz baixa 'insensatez".

Meu anestésico é uma loucura forjada
não conte a ninguém,
mas sou medíocre, mediana,
de desempenho tão sofrível quanto qualquer um a quem se ignore a presença.

Mereço a bala que a mim foi endereçada.
Mereço aprender pela dor.
Isso não é auto-piedade,
nem auto-entrega,
nem auto-crítica,
é ausência de "auto",
por auto-escolha.




segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Daqueles que sempre quase conseguem.


Ela saía todos os dias no mesmo horário. Andava pela rua e não notava ninguém.
Sentia que suas saias lhe traziam um enorme conforto às suas pernas, mas seus sapatos já apertavam seus pés.
E mesmo assim, ela não queria fugir. Ela não queria contar nada a ninguém. E ela não queria rebater idéias ou desfilar conceitos.
Pois detestava olhares, rejeitava aplausos. Ignorava a existência de admiradores e não queria saber de seus inquisidores.
Pouco se importava no quanto pagaram no chapéu que protegia do sol as cabeças pensantes.
Ela queria apenas estar à margem, à parte, às avessas daquilo que não a conquistava. Queria não estar, escolhia o nulo, optava pela ausência. Mas não se orgulhava disso.
Sentia-se só, bem verdade, mas sabia que esse era o preço por ser como era. Afinal, não há acompanhantes num desfile opaco e fosco. Todos sempre querem dizer (se), mostrar (se), apontar (se). Ela? Ela não.

E assim, quanto mais tentava existir na sua discrição, mais olhos curiosos recaíam sobre ela. Procuravam um por quê na sua diferença. Seria uma forma de protesto ou rebeldia, cochichavam enquanto ela passava. Não. E assim a apontavam, questionavam, estranhavam.
É nítido que só não a entenderam... intolerância em uso. Não entendiam que ela não queria fazer partes de grupos, dar as mãos aos fervorosos, gritar por seus direitos ou associar-se ao politicamente correto.

Pois então que aquele que sobe no sentido contrário à multidão, o que mais faz, todo momento, é mostrar seu rosto a todo mundo.



domingo, 5 de agosto de 2007

(Re)trato


Por um instante eu vi tanta beleza, onde não havia. Tanto significado, para oque não representava absolutamente nada.
Nesse instante, nesse segundo imóvel, eu materializei meus sentimentos mais "nobres", e a isso dei o nome de "amor", eu julguei-me capaz de rebaixar-me à humilhante posição de amante. Cego para o mundo. Meus olhos eu emprestei a esse sentimento dominante e sufocante, que só agora percebo não ter sido suficiente.
Hoje, retomei as rédeas de minhas vontades, tenho pleno conhecimento dos erros cometidos, e o pior deles foi ter sucumbido aos encantos abstratos que pensei serem seus, mas na verdade eram fruto de uma imaginação fértil, ociosa e carente.
Tendo tudo isso em mente, tendo revelado toda a verdade, tendo confessado ser vítima de minhas próprias (des)ilusões...me vejo pronto para errar novamente, e errarei consecutivas vezes se for possível.