Ela saía todos os dias no mesmo horário. Andava pela rua e não notava ninguém.
Sentia que suas saias lhe traziam um enorme conforto às suas pernas, mas seus sapatos já apertavam seus pés.
E mesmo assim, ela não queria fugir. Ela não queria contar nada a ninguém. E ela não queria rebater idéias ou desfilar conceitos.
Pois detestava olhares, rejeitava aplausos. Ignorava a existência de admiradores e não queria saber de seus inquisidores.
Pouco se importava no quanto pagaram no chapéu que protegia do sol as cabeças pensantes.
Ela queria apenas estar à margem, à parte, às avessas daquilo que não a conquistava. Queria não estar, escolhia o nulo, optava pela ausência. Mas não se orgulhava disso.
Sentia-se só, bem verdade, mas sabia que esse era o preço por ser como era. Afinal, não há acompanhantes num desfile opaco e fosco. Todos sempre querem dizer (se), mostrar (se), apontar (se). Ela? Ela não.
E assim, quanto mais tentava existir na sua discrição, mais olhos curiosos recaíam sobre ela. Procuravam um por quê na sua diferença. Seria uma forma de protesto ou rebeldia, cochichavam enquanto ela passava. Não. E assim a apontavam, questionavam, estranhavam.
É nítido que só não a entenderam... intolerância em uso. Não entendiam que ela não queria fazer partes de grupos, dar as mãos aos fervorosos, gritar por seus direitos ou associar-se ao politicamente correto.
Pois então que aquele que sobe no sentido contrário à multidão, o que mais faz, todo momento, é mostrar seu rosto a todo mundo.
2 comentários:
Como seria reconhecer-se a si mesmo nessa situação?
Muito bom o texto.
Escrito ao som de Judy and the Dream of Horses?
Muito bom. Beijos!
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