domingo, 11 de maio de 2008

Sangrar é o que me resta. Quando penso nas possibilidades que meu corpo oferece a minha imaginação torpe, da vista opaca escorre à boca em corrente o mesmo líquido doce e brilhante. Não há como parar. Tentei diversos métodos, visitei inúmeros médicos e especialistas no assunto, fui até uma curandeira...nada. Explicar como começou seria inútil para nossa relação.Pois o essencial de mim você já conhece, que sangro ininterruptamente e que não gosto que isso aconteça. Também sabe o esforço que faço para fazer este martírio cessar. Porém, não posso me matar. O único momento que consigo sentir prazer é quando ateio fogo no corpo e sinto cheiro da pele queimada. É diferente, acaba. As vezes seca, impedindo que eu evacue outras coisas, que ouça meu próprio grito de desespero, e tambem de gritar.
É inútil tentar, quando algo sai do corpo não há como parar.
O sofrimento me permite tantas coisas. A melancolia muito tempo passou a ser embalada. Destas informações pouco consigo refletir, mas alguma coisa está completamente errada, corpos estão a sangrar. Que sangrem!
Tenho estigmas desde quando fui escarrado. O cú, a boca, todos os buracos de Cristo. Ele está lá, e não para de sangrar. Ateio fogo nele, que nunca pode se matar, sofreu e imaginou, e de sua dor, eu posso comprar.
N

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Diálogos Internos (pré-produção) - Krystian Bala

Em busca da frase perfeita para representar a idéia... "mas ele está morto! Qual idéia pode expressar isso?! Santo Deus! melhor assim".
Espero pelo café que está prestes a ser servido. Tomara que não venha naquele maldito ponto, em que se favorece o seu esfriamento. Quando morto, o corpo fica assim, puro gelo!
Bem... qual foi mesmo a nossa última conversa? Ah... a minha doce literatura, trancará mais uma cena em seu arquivo... ele estava bem amarrado... nade como puder; mantenha-se vivo aqui, nessas páginas, elas te pertencem. Grande homenagem, coisa nobre. Ouviu? pode me ouvir? Estou te enterrando em terreno de imortais! Maldito! Uma grande homenagem, sem dúvida. Vamos, faça-a feliz, pela última vez... aquela vaca! Não, você não pode. Sabe o porque? sim, você sabe. Foram quatro cortes feitos sobre o seu umbigo, posso ouvir os seus gritos... que tragédia meu Deus! Calma! Calma! nada de lágrimas agora, respire fundo. Vamos lá... falta aquela maldita frase... vamos...
... O romance ideal está sendo escrito. Chegou o café... abençoado seja... parece que não consigo engolí-lo logo de imediato, tenho que olhá-lo, respiro... tão escuro como aquela noite... tão quente quanto o meu corpo... e o seu sabor... um capítulo a parte. O lenço e a faca ainda guardo, como também guardo o som seco do primeiro golpe em suas costas... lembrança... poderia descrevê-la, seria de grande impacto; parece que ao leitor, agrada a saber desses pormenores, então com Raskólnikov aprendemos algo: um assassinato para ser descrito, começa pela motivação do assassino, passando pela trilha sonora do ato e se finaliza nas consequências que se abateram sobre o carrasco, pois para a vítima só cabe um fim, lógico: morrer.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007


O início da marcação... sinto no peito. Dissimulo o sentimento, trasnformando-o em uma análise fria. Mas a nota que entra é tão grave, que estes pilares feitos de falsa austeridade vão ao chão, me deixam tão vulnerável; foi apenas um sopro, já estou muito mais apreensivo. Me reconhecendo no reflexo da janela, me pergunto: "o que sou?". Menos clichê do que se imagina.
Num instante o silêncio é preenchido por referências sonoras que me angustiam. Sinto como se estivesse amarrado ao velho sofá. O tedioso cenário por onde desfila o meu cotidiano, ganha uma poderosa expressão sonora.
E nesse instante de introspecção, aparecem lá fora, como se fantasmas fossem, possibilidades personificadas do que eu poderia ter sido; vão se revezando a cada pausa de respiração e quando a retomo , acompanhado por uma nova linha de improviso, já não é mais o mesmo. Fico suspenso numa enorme e dilacerante apreensão. Não sou capaz de contar quantos eu vi desfilar do outro lado da janela e nem quantos quis ser. Vai passando um agora que é, de todos que lembro de ter visto, o mais familiar; singularmente bem vestido, cabelo cuidadosamente penteado, um modo que desconheço. Faço o julgo pelo o que vestem, essas minhas possibilidades.
O que é presente, passado ou futuro, organicamente, já não me importa mais. O orgulho é nesse instante, um prego que se está cravando em minha mão direita sobre o meu peito, como se estivesse sendo obrigado a prestar um juramento íntimo. Minha outra mão, distante de ser forçada a alguma coisa , apenas acompanha o rítimo em minha perna esquerda.
Sedo... já não posso mais represar as lembranças, na tentativa de domesticar a nostalgia. O dique foi rompido, me entrego, quase sem força, às consequências. O rítimo já não é mais o mesmo, já nem sei se realmente me afogo em lembranças; nem sei se fui transformado em qualquer coisa do cotidiano de alguém; nem sei em que referência me transformei... acho que fui com sopro... Nem sei, enfim, se estou aqui ou lá fora.

domingo, 12 de agosto de 2007

Todos pensamentos de quem contempla uma flor

A ação abortiva num frenético dia incestuoso
o imaculado agoniza nas sombras da perversidade
divindades estupradas soluçam óleo e sangue
goza derramado na face vil e dócil
a penetração prevalece sobre a prece
depreciado por gemidos o importante
suplicantes por tapas e humilhações
rasteja chorando a beleza juvenil
a senilidade presente no espiríto humano
demônios masturbam-se e cospem no espelho
a música silencia-se com as profecias
gritos ecoam nos becos mórbidos do mundo urbano
corações secos mastigados em mandíbulas caninas
a cruz metálica na vagina rosada
forca e arma preparação para libertação
criança com sede enjaulada diante de um rio
homem com fome assiste jantar na novela
deus está com uma moléstia nos olhos
o ânus de Maria arde e sangra
sufoco angustiante na trajetória do esperma
florestas queimam e não há fumaça no inferno
explosões nucleares devastam cidades inteiras
a coluna extraída da lagartixa
sexo anal com cadáver putrefacto
heroína injetada na veia do pênis
a realidade esmagada a virtualidade exaltada
Existir é defecar durante uma hora
existir é ter todos ciscos nos olhos
e também é no momento de cantar parabéns ir embora

sábado, 11 de agosto de 2007

SEMSABERLIDARCOMAMERDATODADOCOTIDIANOINTROSPECTIVO.

Cabeça ociosa. Pego o jornal, folheio o caderno principal. Nada de novo. Na condição de merdafoda em assuntos "políticos", me sinto a vontade para afirmar que esse jornal que agora leio, é um grande e arrojado panfleto político. Prestação de serviço? Bobagem, tráfico de influência, isso sim. NOTÍCIA! Chega a constranger. Mas, fazer o que, tenho que assumir: aqui está o parâmetro de redação, exigida por cursos, concursos, vestibulares, enems... e como sempre estou a margem desses testes. Observo atentamente como a forma de determinado artigo foi construído, quanto ao conteúdo, prefiro enfiar no cu, que é mais azul.
Já se foram três páginas, a cabeça não aceita mais nada que exija conexões complexas; nada de bolsa de valores, mega operações, porra nenhuma de nada. Enfim, para minha sorte, eis que chega a seção futilidade por aqui. Casas, celulares, eletrodomésticos, carros etc, coisas que, de tão distantes, pedem que eu caminhe na direção delas, para assim me abstrair do que é real... que delícia. TERRÍVEL! Chego a uma conclusão óbvia: não sou o único a ler jornal, que embarcar nessas viagens em busca da terra do deslumbre. Afinal, esses anúncios não são feitos apenas no meu número. Bem, acho que aqui caberia aquelas idéias de "meta-algumacoisa": A notícia é o anúncio da mercadoria Jornal, ou o Jornal é o anúncio da mercadoria notícia? Ou o Jornal é, ao mesmo tempo, mercadoria, anuncio e notícia? Tudo com o seus respectivos valores e qualidades.
Não posso ir muito além disso: "dúvida que surge sem base teórica para sustentá-la e é transmitida e defendia como certeza, transforma-se rapidamente, dada a dose certa de arrogância, no mais puro pedantismo"; quero ficar bem longe desse título.
Surpresa! Olha aí que beleza: Estou pensando! Adeus cabeça ociosa do cacete. Me sinto bem, me sinto leve. Como é bom pensar, que grandiosa conquista; que fantástico! numa modesta produção (seria essa a palavra fabril do momento?) intelectual, me transformo em um novo homem. Então é isso: "O PENSAR", que beleza. Acho que lutei em algum lugar, não consigo me lembrar onde, pelo estigma de farça, terei que rever isso urgentemente.

Maldição! Sempre acontece isso. Uma pequena interrupção e pronto! Toda a minha gloriosa edificação intelectual se esvai. Pensamentos de Sérgio Naya... foi-se tudo. Poderia rolar para cima e ler tudo que escrevi até aqui, mas isso não seria legal, isso mudaria toda a minha perspectiva, estaria escrevendo sobre o PENSAR, sem pensar no PENSAR, apenas iria em direção de uma meta. Ah! olha essa palavrinha proibida visitando meu texto... que tentativa feia de desviar a atenção do meu resgate do assunto... Peraí, o que estou vendo aqui... que maravilha! Uma seção de móveis em oferta me esperando. Claro, eu e minha cabeça ociosa.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007